A agilidade resolve conflitos interpessoais?

Recentemente li um livro muito interessante e alinhado com o meu momento de vida, chamado “A coragem de não agradar“. É um livro baseado na psicologia de Alfred Adler que coloca o mundo em uma perspectiva da psicologia individual e da característica inata de todo ser humano de buscar o convívio em sociedade.

Fiquei impressionado como demorei para perceber a relação sinérgica – diria até óbvia – deste pensamento com o manifesto ágil e por isso resolvi anotar neste post sucintamente as minhas percepções.

A Agilidade também resolve conflitos interpessoais?

Todos os problemas tem base nas relações interpessoais

Alfred Adler

O primeiro princípio do Manifesto Ágil prega que devemos manter “Os indivíduos e suas interações” acima de procedimentos e ferramentas. Este princípio defende que somente através da vontade genuína de cooperar e sobrepujar as diferenças é possível manter um ambiente de trabalho produtivo e harmonioso.

A provocação de Adler sobre este contexto serve como mais uma referência da importância de manter este fator natural em vista, gerenciando-o e tendo sempre como ponto de atenção.

Além dos 4 princípios, a agilidade também propõe 12 valores que quando observados contribuem muito para a boa experiência de todos os envolvidos no empreendimento, sejam eles desenvolvedores ou patrocinadores.

Quando o manifesto ágil propõe que “As melhores arquiteturas, requisitos e designs emergem de equipes auto-organizáveis” podemos fazer uma equivalência com o trecho do livro onde Ichiro Kishima e Fumitake Koga afirmam que “(…) uma pessoa só se torna um indivíduo em contextos sociais”.

Talvez em um primeiro momento esta relação acima não seja tão óbvia mas vou tentar expor o meu ponto de vista. Em um time auto-organizado cada membro tem a oportunidade de desenvolver todos os seus valores, expressando os seus limites, definindo os seus anseios, contribuindo com suas ideias e valores e colaborando com a manutenção constante e contínua deste “universo” onde se encontra.

Não pretendo ir muito longe neste artigo sobre a relação do Homem1 com o Trabalho mas sem dúvidas é um assunto que pretendo desenvolver em breve. Por ora considere somente a importância da ocupação para o sentido de pertencimento à qualquer Homem produtivo.

A cooperação como artifício chave da solução de conflitos

A sensação de comunidade é o conceito-chave tão debatido na psicologia adleriana

Ichiro Kishima e Fumitake Koga

Para Adler a bússola para continuarmos avançando em direção à felicidade é “A contribuição para os outros”. Assim também o Manifesto Ágil prega a “colaboração com o cliente” como um dos seus princípios além de “cooperação constante entre as pessoas que entendem do ‘negócioe os desenvolvedores“, “relação de confiança“, “conversa cara a cara“, e novamente “auto organização” como valores imprescindíveis para um bom ambiente de trabalho.

Não saberia dizer o quanto dos signatários do Manifesto Ágil tem conhecimentos nas áreas da psicologia ou mesmo se algum deles chegou a ter acesso às propostas e manifestações de Adler. Sempre aprendi que todo o manifesto foi desenvolvido baseado na experiência empírica dos participantes e isso sem dúvidas fortalece a importância destes temas para o ambiente de trabalho.

Perceber que a visão das “trincheiras” e a visão “de um pensador” apesar de descritas em termos diferentes (e em momentos diferentes) pregam os mesmos princípios e valores visando a mitigação de problemas que afetam o convívio social, a produtividade e a satisfação humana pode ser mais um indicativo de que precisamos considerar a adoção tão ampla quanto possível destes no nosso dia-a-dia, profissional ou não.

  1. Perceba que escrevo Homem com H maiúsculo para me referir ao ser e não ao gênero ↩︎

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